O símbolo Sankofa, um pássaro africano que olha para trás enquanto segue em frente, nos convida a revisitar nossas raízes para fortalecer o caminho que estamos construindo. Esse conceito, de "voltar para buscar o que ficou para trás," pode ser facilmente atrelado à Comunidade Territórios do Amanhã. Como um abraço entre gerações e culturas, essa rede apoia organizações e lideranças que, por meio de suas histórias e lutas, carregam a esperança de um futuro mais justo e inclusivo.
Idealizada pela Próspera Social e gerida pela Phomenta, a iniciativa pretende apoiar organizações e coletivos que atuam em áreas críticas para para populações indígenas, negras e quilombolas, como segurança alimentar, habitação e cultura. No escopo, estão o desenvolvimento institucional das organizações selecionadas; instrumentalização de lideranças, impulsionamento da troca de experiências e boas práticas entre as organizações.
“Os nossos velhos dizem: ‘Você não pode esquecer de onde veio, porque assim sabe quem é e para onde vai.’ Isso não é importante só para a pessoa, mas para o coletivo.” — Ailton Krenak
Nesta primeira edição, realizada online, a Comunidade Territórios do Amanhã apoiou 14 organizações de oito estados e dez cidades. “A iniciativa foi especial pela sua abrangência e pelo impacto direto nas comunidades. Conseguimos levar a capacitação para organizações fora do eixo Rio-São Paulo, ampliando o alcance e a inclusão social”, afirma Camilla Carvalho, coordenadora de projetos da Phomenta.
Após um processo de seleção, com mais 190 inscrições válidas, foi formada uma rede de organizações engajadas, evidenciando tanto a demanda por capacitação no terceiro setor quanto o potencial de impacto da colaboração entre organizações. Os resultados demonstram a força do apoio técnico e do trabalho em rede.
Diana Aleixo, coordenadora do Instituto Vale do Sol de Preservação dos Direitos Humanos e Meio Ambiente, reflete sobre essa jornada: “Os encontros no Territórios do Amanhã foram um intercâmbio entre organizações de territórios em conflito, construindo perspectivas de transformação social. Conseguimos fazer um espaço de formação com metodologia interativa para tirar dúvidas, e construindo principalmente relações institucionais e humanas.”
Após um ano de encontros online e muitas trocas, chegou a hora do abraço. A rede proporcionou um encontro presencial em meio a natureza, em Bragança Paulista, Zona Rural de SP. “A troca de experiências é incrível, olhar para as pessoas, escutar, partilhar as experiências de forma mais pessoal e em grupo, também de conhecer mais de perto os trabalhos de cada organização, alegria nos olhos e no coração faz que me sinto parte do grupo da rede”, comenta o professor de língua guarani, cientista social e antropólogo Arnulfo Moringo, sócio-fundador do RAIS. “O encontro presencial com a escolha certa do lugar faz muita diferença; é o que conecta com o espiritual do grupo e o que dá esperança para resistir e continuar apoiando aos mais vulneráveis; que são os indígenas.”
O programa ofereceu às organizações acesso a conhecimentos práticos de gestão financeira, planejamento estratégico e captação de recursos. Tudo isso a partir do resgate de saberes que as lideranças já tinham, aliado a inovações e ferramentas apresentadas pela equipe da Phomenta. A Comunidade Territórios do Amanhã proporcionou um acompanhamento próximo e adaptado às necessidades de cada organização, assegurando que o aprendizado se traduzisse em práticas transformadoras.
Mais sobre quem faz a diferença:
Valorização das raízes e olhar para o futuro
Ao conectar as organizações em um ambiente de apoio, a Territórios do Amanhã fortalece identidades culturais que compõem o tecido social brasileiro.
Cada organização tem uma força própria que surge das provocações, das injustiças e da busca por transformação. É encantador poder estabelecer um contato, que se nacionaliza por meio da rede Territórios do Amanhã, é promover uma leitura crítica e o acompanhamento das políticas públicas que ainda precisamos alcançar. As organizações estão distribuídas por diversos estados do país, em realidades desafiadoras, como no Nordeste, na Amazônia, no Sul, em polos de favelas, em territórios de afirmação dos povos originários e de comunidades quilombolas. A diversidade cultural que compõe o povo brasileiro reflete nossa continuidade em resistir, acreditar e fazer a diferença. Somos símbolos que afirmam a identidade dos povos originários no país e das iniciativas que vêm sendo construídas para políticas públicas de combate ao racismo e aos preconceitos. Esse espaço de visibilidade e o potencial produtivo de nossas comunidades ancestrais para o país ativam nossa memória histórica.
A Comunidade Territórios do Amanhã avança mais uma vez rumo a um futuro mais igualitário, com a criação de um fundo autogerido. Esse modelo de gestão coletiva traz uma inovação importante: os financiadores não têm poder de decisão, o que garante a emancipação e o protagonismo das organizações participantes.
A ideia surgiu como uma provocação durante um encontro presencial e rapidamente evoluiu para uma oportunidade concreta. Agora, as organizações têm a chance de liderar o desenho e a gestão desse recurso coletivo, assumindo um papel central no processo.
Com apoio inicial de R$ 100 mil, viabilizado pela Próspera e pelo Instituto ACP, o fundo está sendo estruturado em conjunto, com quase 95% da comunidade envolvida nas discussões. O processo é conduzido pelas próprias lideranças, que definem o formato, os critérios de acesso e o funcionamento prático, enquanto a Phomenta atua somente como facilitadora.
A previsão é que o fundo seja lançado no próximo ano, consolidando mais uma ferramenta poderosa para fortalecer essas organizações e ampliar o impacto coletivo.
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