A chuva ainda cai: Amurt-Amurtel e a ação frente à tragédia no RS

Mariana Moraes • 3 de junho de 2024

Há um mês, o Rio Grande do Sul enfrentava uma enchente devastadora que afetou 94% do estado. Diversas campanhas de solidariedade foram lançadas na época, e todo o Brasil compartilhou a comoção. No entanto, como frequentemente acontece com ações pontuais, a ajuda diminuiu após esses 30 dias.


A chuva ainda cai, e quase 50 mil gaúchos permanecem em abrigos, a maioria mantidos por trabalho voluntário. São 169 mortes confirmadas, pouco mais de 91 mil crianças e adolescentes sem previsão de retorno às aulas, e 100 mil pontos continuam sem energia elétrica. A reconstrução do estado e a recuperação da dignidade daqueles que perderam tudo não serão rápidas, tornando o trabalho do Terceiro Setor ainda mais crucial nesses momentos.


Assistência e Solidariedade no Rio Grande do Sul

Uma das organizações atuando na linha de frente é a Amurt-Amurtel, que há 30 anos trabalha em projetos de educação, assistência social e direitos humanos. Entre suas abordagens está o projeto Ação Rua (Serviço de Abordagem Social), que busca garantir direitos e facilitar o acesso às políticas públicas para crianças, adolescentes e adultos em situação de rua ou trabalho infantil nas regiões da Restinga e Extremo Sul de Porto Alegre.


Atualmente, a instituição, que atende mais de 2.300 pessoas mensalmente, participa do Programa Malwee Acelera, realizado pelo Instituto Malwee com apoio da Phomenta, voltado para o atendimento de meninas e meninos. “A Amurt- Amurtel Porto Alegre nasceu do desejo de um grupo de pessoas que praticavam meditação e perceberam que suas vidas não poderiam estar completas sem uma atuação na sociedade de forma pró-ativa, amorosa e socialmente responsável. Em 1986 este grupo iniciou um projeto de educação infantil na Restinga Nova (bairro da periferia da cidade de Porto Alegre) e com o aumento da demanda ainda na década de 80, o grupo iniciou mais três escolas de educação infantil e em 1988 fundou a entidade”, compartilha Carina de Lima Ferreira coordenadora do Ação Rua. “Nosso objetivo é promover o desenvolvimento integral de indivíduos, em especial aqueles em situação de vulnerabilidade e risco social, baseado nos ideais universalistas do Neo Humanismo, e na garantia e defesa dos direitos humanos.”


Nestes trinta anos, a Amurt-Amurtel tem enfrentado obstáculos comuns a diversas ONGs brasileiras, como sustentabilidade financeira, capacitação e retenção de voluntários, necessidade de parcerias estratégicas, visibilidade e comunicação, além das adaptações às mudanças sociais e econômicas. Agora, enfrenta um novo desafio na proteção dos mais necessitados.


A sede, localizada em Ponta Grossa, também serve de alojamento para os vulneráveis. Além de espaço para dormir, oferece alimentação, atendimento de saúde e assistência social, confecção de documentos, acesso a benefícios e oficinas de arte, cultura, yoga, meditação, teatro, música e dança. Os profissionais trabalham na construção de projetos de vida por meio de atendimentos técnicos das equipes de assistência social e saúde.


Carina, que trabalha há 7 anos na Amurt, expandiu sua atuação para coordenar estas ajudas humanitárias. A equipe também se divide em outras ações estratégicas, como contato com as famílias atendidas pelos projetos para avaliar a situação atual, o impacto das enchentes e as necessidades. Além disso, atuam na logística das doações, recebendo, separando e entregando insumos tanto para o público externo quanto para abastecimento do alojamento e para a população em situação de rua dentro da instituição.


Como ajudar

A organização está totalmente dedicada a essas ações, mas precisa de auxílio para alcançar ainda mais resultados. “Necessitamos de apoio de doações financeiras ou através de colchões, roupas de cama, alimentos não perecíveis, fraldas, roupas e calçados, roupas íntimas, materiais de higiene e de limpeza. Também precisamos de voluntários”, aponta Carina. 


A recuperação é um processo longo, e precisa de ações contínuas e duradouras. A colaboração e o engajamento da sociedade civil serão fundamentais para atender necessidades emergentes e proporcionar um futuro mais justo e igualitário. Para contribuições financeiras, o pix da organização é
doacao@amurt.org.br. Doações presenciais podem ser feitas na sede, localizada na Av. Juca Batista, 6841 - Ponta Grossa.


 “A Sociedade Civil organizada é muito potente e me impressiona sua capacidade de mobilização, flexibilidade diante das conjunturas e seu impacto comunitário. Foi isso que me levou ao terceiro setor”, diz a coordenadora. “Estamos comprometidos em continuar nosso trabalho, oferecendo suporte e oportunidades para melhorar a vida das pessoas em nossa comunidade. Continuaremos a expandir nossos esforços para atender as necessidades emergentes e proporcionar um futuro mais justo e igualitário para todos.”



Publicações recentes

Por Instituto Phomenta 10 de dezembro de 2024
No dia 3 de dezembro, a Phomenta realizou um encontro que reuniu mais de 600 inscritos de diversas regiões do Brasil para debater os caminhos do impacto social. O webinar Futuro em Foco: Tendências de 2025 para o Terceiro Setor foi pensado como um espaço de troca, onde integrantes da Phomenta e espectadores discutiram questões urgentes para as organizações da sociedade civil. Mediado por Rodrigo Cavalcante, Aline Santos e Agnes Santos, o evento trouxe à tona tendências que já estão moldando o setor, a partir de temas sugeridos por quem está na linha de frente do impacto social. Além de um panorama geral sobre desafios e oportunidades, foram abordadas questões como mudanças climáticas, envelhecimento populacional e o uso da inteligência artificial, sempre destacando como esses tópicos impactam diretamente a atuação das ONGs. “Nós podemos construir mundos melhores do que este em que estamos”: como se preparar para as mudanças climáticas Os pensamentos de Ailton Krenak guiaram a conversa sobre mudanças climáticas, uma das principais tendências apontadas para 2025. Estamos testemunhando o impacto crescente de eventos extremos e precisamos planejar ações para “adiar o fim do mundo” ou, ao menos, garantir a sustentabilidade das organizações. “Nós falamos muito aqui na Phomenta sobre não dar para prever todos os problemas; a pandemia ninguém previu, por exemplo. As mudanças climáticas até previmos, mas não nessa proporção que está acontecendo. Então é preciso que a gente pense em como seremos mais resilientes, em como a gente lida com os impactos que o planeta vai passar”, comentou Agnes Santos, gerente de metodologia. “Precisaremos mudar nossas estratégias de atuação, não tem jeito. Por exemplo, se a sua organização não trabalha com refugiados climáticos, talvez no futuro precise começar a trabalhar com esse público.” Durante a discussão, foram levantados pontos como a necessidade de repensar práticas organizacionais para responder a cenários de crise, o papel das ONGs na disseminação de informações confiáveis e no engajamento das comunidades, e estratégias para fortalecer redes e parcerias intersetoriais. Envelhecimento populacional e a economia prateada O envelhecimento populacional no Brasil foi outro tema amplamente debatido. Puxado por Aline Santos, o tópico apresentou como esse fenômeno impacta diferentes áreas, desde a saúde até a economia. Com a expectativa de que o país esteja entre os mais envelhecidos do mundo até 2030, surgiram debates sobre inclusão, acessibilidade e a valorização do público 60+. Houve também preocupações sobre o impacto do envelhecimento na dinâmica familiar e nos serviços sociais, além de destacar a necessidade de combater o etarismo e criar projetos que promovam qualidade de vida e integração entre diferentes gerações. “A ideia central dessa tendência é que o futuro é intergeracional. Olhe para como você está construindo a sua equipe, olhe como está desenvolvendo estratégias de comunicação, como está criando estratégias de mobilização, seja de voluntários, doadores ou da população atendida. Conecte as gerações”, reforçou Aline Santos, gerente de operações. Inteligência artificial como ferramenta para o impacto social A inteligência artificial, já discutida no webinar de 2024, permaneceu como um dos temas mais requisitados pelos inscritos. As ONGs queriam saber como usar essa tecnologia para otimizar processos e ampliar o impacto. Foram apresentados exemplos como o uso de chatbots para atendimento, ferramentas de análise de dados para planejamento e estratégias para alcançar novos públicos. Contudo, foi reforçada a importância de garantir que sua aplicação seja ética e acessível, especialmente em contextos sociais mais vulneráveis. Rodrigo Cavalcante, diretor executivo da Phomenta, destacou o papel dos agentes de IA, programas que interagem com o ambiente, coletam e usam dados para realizar tarefas. “Pra mim, esse é um grande ponto que vamos olhar em 2025: a criação desses robôs para operar e fazer coisas pra gente. Pode ser um robô do WhatsApp, um robô que se comunica com doadores ou com os atendidos da organização”, explicou. Confira o webinar na íntegra
Por Instituto Phomenta 9 de dezembro de 2024
A transformação social acontece quando unimos forças e colocamos propósitos em ação. Foi sobre isso que nosso diretor executivo, Rodrigo Cavalcante , abordou durante o podcast Impacto ESG. No encontro, foram compartilhadas histórias, reflexões, desafios e as conquistas de conectar o mundo corporativo ao terceiro setor. Quer saber mais? Confira completo aqui:
Por Instituto Phomenta 22 de novembro de 2024
A rede fortalece organizações em diversas regiões do Brasil, promovendo capacitação e conexão entre lideranças que lutam por justiça social e valorização cultural, para populações negras e indígenas.
Ver mais publicações

Fale com a Phomenta

Share by: