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Ponto de Cultura Batá Kossô: A renovação do que é ancestral

Mariana Moraes • abr. 25, 2024

O centro, que participa da comunidade Territórios do Amanhã, é espaço de efervescência cultural, formação e defesa da história negra

Há 12 anos, o Batá Kossô nasceu no bairro do Varadouro, em Olinda, Pernambuco, aos pés do "terreiro de Dona Hilda", o CEMFA - Centro Espírita Maria Francisca de Assis, com o intuito de promover a arte e a cultura ancestral. A principal proposta da organização é oferecer vivências e práticas gratuitas de expressões culturais de matriz afro-brasileira, por meio de oficinas e formações diversas, como o ensino de percussão para a juventude e ações de sustentabilidade no Sertão Pernambucano.


O grupo cresceu e se transformou em um laboratório vivo, que estimula o senso de pertencimento e empoderamento dos integrantes, além de facilitar a entrada de artistas na cadeia produtiva da música. Por sua relevância, em 2018, foi reconhecido pelo Ministério da Cultura e integra os 5 mil Pontos e Pontões de Cultura registrados no Brasil. Estima-se que mais de quinhentas pessoas se beneficiaram com as ações do Batá Kossô, liderado pelo produtor cultural Felipe França. A cultura pernambucana e negra também foi disseminada para outros países, através do grupo, por meio de oficinas realizadas na Alemanha, África do Sul e Moçambique. No entanto, com o início da crise sanitária em 2020, foi necessário silenciar os tambores.

Desafios e Resiliência: organizações diante da Pandemia

Segundo pesquisa Datafolha (2021), à época, pelo menos 61% das instituições do Terceiro Setor afirmaram ter deixado de atender ou oferecer algum serviço por causa da Covid-19. O Batá Kossô foi uma delas. “Durante a pandemia, interrompemos as atividades presenciais nas comunidades. Quando a pandemia acabou, tentamos voltar aos poucos, mas logo depois minha mãe faleceu. É um processo que ainda vai completar dois anos e tem sido um grande marco. O Batá Kossô está localizada na casa da minha família, da minha mãe, das minhas tias, é onde temos nosso terreiro”, explica Felipe. “É uma organização ainda com o cunho familiar, assim como as culturas dos povos tradicionais”.


Em meio às adversidades, Felipe percebeu a necessidade de elaborar novas estratégias para não desmobilizar a comunidade ou desmontar o Ponto de Cultura. Através das redes sociais, tomou conhecimento da abertura da
Comunidade Territórios do Amanhã, gerida pela Phomenta e realizada em parceria com a Próspera Social. A iniciativa visa fortalecer organizações negras e indígenas que atuam na resistência sociocultural e ambiental, por meio da criação de um ambiente que celebra a potência do coletivo e visa a capacitação em temas de gestão presentes no dia a dia das lideranças sociais.

Comunidade Territórios do Amanhã: Fortalecimento Coletivo e Capacitação de organizações

Os encontros da comunidade são online, gratuitos e permitem a participação de Organizações de diferentes partes do Brasil, o que significa uma oportunidade de conexão com organizações que atuam com o mesmo público e/ou causas em diferentes regiões. “A busca foi entender como gerir melhor o coletivo. Participar da comunidade foi um movimento de organização interna, e mudou a forma de pensar sobre o que é ser uma organização do Terceiro Setor”, comenta o produtor.


De acordo com a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), 46% das pessoas que atuam em ONGs e associações da sociedade civil são negras. Na contramão, homens e mulheres negros ganham 27% menos que as pessoas brancas. Ao olhar apenas para as lideranças, em 2019, a desigualdade entre pessoas brancas e negras na função de diretoria chegava a 34%.
A Comunidade Territórios do Amanhã nasce da premissa de que trabalhar em rede é uma das melhores estratégias para quem pensa em soluções para os problemas mais urgentes na sociedade, e que compartilhar suas experiências e trocar com quem entende das mesmas dores faz toda a diferença, além de proporcionar protagonismo.


A formação tem a duração de 12 meses, para que as 14 organizações participantes tenham tempo de qualidade e possam se fortalecer em conjunto, sentindo-se seguras para compartilhar seus desafios e oportunidades e realizar parcerias com outros empreendedores sociais, visando um futuro mais colaborativo, inclusivo e participativo. Os empreendedores sociais participantes têm o acompanhamento de profissionais da Phomenta, durante todo o percurso, em assessorias individuais, na capacitação em gestão e captação de recursos. Ferramentas que foram indispensáveis para redesenhar inovações na Batá Kossô.
“Pensávamos de uma forma sobre os voluntários, hoje pensamos de outra. Temos um quadro de voluntários. A captação de recursos era concentrada apenas em uma pessoa, agora estamos tentando fazer com que isso seja mais descentralizado. Que as coisas sejam mais divididas”, aponta Felipe.


Tantas pessoas, crenças e atuações diferentes em um só local inspiram pontos de virada, como as levadas do maracatu. Isso traz a necessidade de olhar com carinho a manutenção e renovação do que é ancestral. “A comunidade vem mudando a nossa forma de pensar em gestão e em como continuar o trabalho, como se posicionar em algumas questões. Isso tudo vem mudando, e com toda mudança tem um movimento”, compartilha o representante do Ponto Cultural. “Para o futuro, espero continuar pondo em prática os aprendizados e seguir buscando melhorias.”



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