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O que aprendemos no Skoll World Forum 2019

Phomenta • mai. 06, 2019

 

Eu lembro das primeiras vezes que abri o site da Skoll Foundation no início da Phomenta e ficava babando em ver a programação e speakers da Skoll World Forum, todos os anos, com apenas empreendedores e ativistas convidados – muitas vezes famosos no mundo – discutindo os mais sérios problemas sociais e ambientais da nossa sociedade.

 

Tendo um discurso bem sólido sobre a importância de investir em indivíduos, principalmente os que possuem menos acesso, desde o ano passado, junto a patrocinadores (como a Johnson & Johnson) eles começaram a convidar e dar bolsas a empreendedores, principalmente da África e Latinoamerica, para participarem deste evento como Fellow.

Foi assim que consegui ir ao tão esperado Fórum. Não imaginei que seria tão rápido ser convidada em estar lá e confesso que fiz um exercício gigante para conter a expectativa, já que sempre gero altas expectativas e com isso, tenho altas frustrações.

Mas felizmente a experiência superou todas as expectativas!

De primeiro o que mais gostei foi o fato de não fazerem distinção entre empreendedores sociais: podia ser com ou sem fins econômicos, com distribuição ou sem distribuição de lucro, podia ser um movimento de uma comunidade ou podia ser um grupo de pessoas que se dedicam a causas sociais via grupos do Facebook, podia ter forma jurídica de empresa ou de “ONG”. Enfim, se você dedica sua vida a causas socioambientais, lá você seria encarado como empreendedor social!

Além disso, ninguém estava lá para fazer sabatina do seu modelo de negócios. Claro que nas conversas esse tipo de pergunta acontecia: “mas como vocês se financiam?” Mas não de uma forma arrogante e já todo armado para poder fazer todas as suas críticas ao seu modelo, como se você estivesse falando com os “gurus”.

 

Fazia tempo que eu não ia a um evento em que não havia muito espaço para competição e comparações, mas sim para compartilhamentos, motivação e inspiração. Aliás, fazia tempo que não escutava elogio de pares! E isso foi muito pautado nas principais palestras: “Empreendedores, ouçam mais e falem menos! Todos que estão aqui têm seu mérito!” E acho que todos levaram a sério este conselho! Que bom!

 

 

Este ano, o tema escolhido pela Skoll foi “Acelerando possibilidades”. A semana foi dividida basicamente em palestras extremamente dinâmicas com discussões abertas, “braindates” em que você podia marcar uma reunião com outro empreendedor para falar sobre determinado assunto e a premiação dos empreendedores sociais do ano.

 

Por conta da temática da Phomenta, fiquei muito interessada em ver quais eram as iniciativas ao redor do mundo em relação à “educação” dos líderes sociais que estão gerenciando ONGs e quais eram suas principais necessidades; além da situação da filantropia e confiança da população nas organizações sociais.

Também intercalei minha agenda para conhecer outros empreendedores e ver como estavam fazendo para colocar suas ideias no papel sem desistir, quais estratégias escolhidas, os principais desafios encarados, enfim, como uma terapia em grupo, além de uma busca por inspiração e histórias incríveis para voltar renovada e recarregada.

A filantropia é parte do problema ou da solução?

Ainda há muitos problemas que inibem o progresso da filantropia, principalmente a educação de todos os atores envolvidos. Mas sem filantropia, dificilmente iremos longe para atacar os principais problemas da nossa sociedade. Não é só investimento social e empresas sociais e também não é só filantropia e organizações sociais. Tem que andar junto, cada um respeitando seu importante papel.

Uma das discussões do Fórum que estava bastante em pauta era sobre o papel da filantropia e do investimento social e de como está sendo o “matching” entre os projetos sociais e financiadores ou doadores ao redor do mundo.

Abaixo algumas anotações das sessões que participei – ou seja, o que estava sendo dito no Fórum (e não opiniões minhas):

  • Ainda há muita falta de confiança dos doadores em relação a projetos e organizações sociais, principalmente àqueles que são poucos conhecidos (a maioria) ou que estão distantes – em outros países.
  • Os empreendedores e organizações sociais ainda possuem muita dificuldade em acessar recursos financeiros, por muitas vezes não terem acesso às informações, como abordar empresas e terem dificuldades em “chamar atenção” dos investidores.
  • Ainda não é feita de forma efetiva o “matching” entre os doadores e projetos sociais. Os doadores têm dificuldade para entender sua causa, encontrar organizações que confiam e gostam, além de saber esperar o tempo de entrega dos resultados de um projeto social. Enquanto isso, os projetos sociais têm dificuldades para buscar diferentes empresas e filantropos (eles acabam sempre indo nos mesmos), dificuldades para ter jogo de cintura e convencimento para buscar entender os interesses dos filantropos e ao mesmo tempo mostrar seu ponto de vista, o real problema social e a forma efetiva de entregar impacto.
  • Seria muito mais efetivo se os doadores e empreendores ou organizações sociais se encarassem como parceiros, assim os doadores veriam com mais facilidade o que é sucesso de um projeto e teria um acordo melhor sobre os resultados esperados.
  • Os filantropos, financiadores ou investidores sociais são mais avessos a tomar riscos na área social do que geralmente são em outras áreas. Investir em 10 startups, para apenas 1 ou 2 darem certos, espera-se que o retorno financeiro seja tão grande a ponto de minimizar o prejuízo das 8 que deram errado. Mas qual seria o drástico prejuízo separar uma porcentagem deste investimento para um projeto social, sabendo que o retorno será um impacto social ou ambiental e que sim, investindo no social, indiretamente, terá um impacto econômico?
  • Além disso, muitos investidores têm obsessão por escala. Mas nem tudo é escalável e nem tudo que escala aumenta consideravelmente o impacto social. E na área social, muitas vezes escalar não é sinônimo de crescer ou de replicar para um outro público ou para outra região. Mas cada trabalho gera um impacto significativo! Por isso a importância de ambas as partes conversarem de igual para igual, para que um entenda a realidade do outro.
  • As consequências da filantropia ser feita por pessoas que não conhecem de perto a realidade do problema a ser solucionado são as demandas por resultados inatingíveis. Por que são só eles que definem os resultados que querem ver após colocarem dinheiro? O que é impacto para eles?
  • Doadores: querem resultados por performance? Então paguem por isso! Não economizem só por ser um projeto social e não queiram doar só o que é “tangível” ou para o beneficiário. Essa mentalidade só quebra o sistema. Investir em pessoas, nos líderes sociais, na gestão e fortalecimento das organizações é mais garantia de um resultado de ótima performance. Tudo tem um custo.
  • Perguntas aos países que estão engatinhando no “give back”: Estamos preocupados em fazer filantropia ou reduzir nossos impostos?
  • Quais são os mecanismos de feedback e de relacionamento que os empreendedores e organizações sociais estão mantendo com os doadores? Como manter a chama acesa, engajar e fidelizar o seu doador?
  • Com tantos países em crises, sem poder contar com dinheiro público, o que então o governo está fazendo para facilitar a parceria entre doadores e empreendedores ou organizações sociais?

Takeaway + Comédia

Estas palestras e sessões me fizeram ver que os problemas que encontramos aqui na área social não são exclusivos do Brasil, vistos inclusive em países do “primeiro mundo”. Isso dá um certo conforto de ver que não estamos loucos, não estamos agindo pelo feeling e que não estamos sozinhos. E ao mesmo tempo ver que é possível trabalharmos para isso e que há muitas pessoas e organizações como a Phomenta dedicadas a resolver esse gap, essa falta de informação e de ponte entre os diferentes atores, que no fim das contas, é uma das raízes do problema de como fomentar impacto social no mundo.

Participei de outras diversas sessões, com outras temáticas e que poderia fazer outros artigos. Mas uma que gostaria de encerrar aqui é de um tema de como podemos usar formas criativas da Comédia e do Riso para educar as pessoas sobre os problemas sociais e ambientais que enfrentamos!

 

Participei da palestra “Not just for laughs: How comedy sparks change” , em que foram convidados comediantes que já atuaram com causas e ativismo social, como do Comedy Central. E eu nunca tinha parado para pensar que fazer as pessoas rirem força o positivismo e as socializam, fazendo quererem ajudar. Inspirar justiça social por meio da comédia é uma forma de persuasão – claro que sempre fazendo o uso com moderação e bom senso.

 

Em um momento em que o Storytelling está super em alta e que realmente surpreende nos resultados e faz diferença, achei importante colocar aqui também esta opção do uso da comédia para falar de assuntos sérios. Seria interessante provocarmos as pessoas com assuntos polêmicos e usarmos da estratégia do humor para educação da sociedade sobre um determinado tema que constrange a todos e muitos nem sabem por onde começar a ajudar.

Será que assim vamos chamar mais atenção?

Para quem tem interesse em explorar o assunto, o que foi muito bem pautado na palestra foi sobre a importância de construir parcerias com profissionais para a construção das narrativas, vídeos e etc. Não é simples e não podemos banalizar o problema. É preciso estudar bem, conhecer sua audiência e saber onde você quer chegar com sua mensagem, e se faz sentido usar o humor ou não. Depois disso, vale a pena testar! Se você tentar, me conta depois como foi!

Agradecimento especial à Valeria Militelli e a Johnson & Johnson pelo convite. Tenham certeza de que foi muito inspirador, de muito aprendizado e que vou replicar a experiência para os membros da nossa rede e para quem quiser!

Assista o vídeo oficial do Fórum aqui:

Este texto foi redigido  por Izadora Mattielo, co-fundadora da Phomenta, que foi uma das 75 ativistas globais que participaram do Fórum como Skoll Fellows.

 

 


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