Desmatamento na Amazônia: Causas e Oportunidades

Phomenta • 23 de maio de 2019

 

A Amazônia brasileira é a maior floresta tropical do planeta. Ela ocupa cerca de 50% do território brasileiro. Na região habitam mais de 25 milhões de pessoas e a sua economia está baseada em grande parte na exploração de recursos naturais e minerais e do agronegócio, que já levou ao desmatamento de cerca de 20% de sua cobertura florestal original.

 

Mesmo com todo esse desmatamento – e consequente perda de biodiversidade e emissões de Gases de Efeito Estufa associadas – a Amazônia ainda representa um desafio em termos de desenvolvimento econômico. Atualmente, a região responde por menos de 8% do PIB brasileiro.

Da área total desmatada na Amazônia, boa parte está ocupada por pastagens de baixa produtividade, ou seja, áreas que possuem menos de 1 cabeça animal por hectare (para efeitos de comparação, 1 hectare equivale ao tamanho de um campo de futebol). Ou seja, desmatou-se a floresta para colocar menos de 1 boi em uma área de um campo de futebol inteiro!

Boa parte do desmatamento da Amazônia ocorreu, portanto, sem uma proposta clara de desenvolvimento local. A razão para tanto desmatamento foi, em boa medida, para exploração irregular e insustentável de recursos naturais e para especulação fundiária, uma vez que uma área desmatada (mesmo que ilegalmente) passa a valer mais do que quando ainda era uma floresta nativa.

Porém, devemos lembrar que a Amazônia é uma potência florestal. A sua verdadeira vocação econômica está ancorada no manejo sustentável das florestas , nos produtos madeireiros e não-madeireiros – como óleos, frutas, sementes – nos sistemas de produção agroflorestais – aqueles que compatibilizam a produção de alimentos consorciados com espécies florestais – e na valoração dos seus serviços ambientais .

Geração de créditos de carbono na Amazônia

A Amazônia presta serviços indispensáveis para a manutenção da nossa qualidade de vida e sistemas de produção atuais. Exemplos destes serviços estão na capacidade da Amazônia em estocar o carbono da atmosfera nas raízes e troncos das árvores, além de regular os ciclos de chuvas que irrigam boa parte do agronegócio brasileiro.

Está na hora de começarmos a valorar esses serviços ambientais de forma mais contundente, visando atrais novos investimentos (nacionais e internacionais), em escala, dedicados ao desenvolvimento econômico da Amazônia e das pessoas que ali vivem.

Uma opção clara para valoração destes serviços ambientais seria através dos créditos de carbono florestais. Os créditos de carbono podem ser gerados, por exemplo, pela redução do desmatamento na Amazônia e pela recuperação de áreas degradadas. Com isso, o Brasil e os Estados da Amazônia poderiam abrir novas oportunidades de investimentos para a região, de forma complementar aos investimentos públicos.

 

Nos últimos dez anos, a Amazônia gerou a maior contribuição já feita por qualquer país para combater as mudanças climáticas. Em 2004, as emissões totais do Brasil foram de 3,8 GtCO 2 e (gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente), sendo que mais de 75% destas emissões vieram do setor de mudança de uso da terra (SEEG).

 

O desmatamento na Amazônia foi o maior responsável por essas emissões. Apenas no ano de 2004, perdemos uma área de floresta amazônica do tamanho do Estado do Alagoas (mais de 27 mil km 2 de florestas foram desmatadas em um único ano).

Devido a uma série de esforços coordenados pelo governo federal, estados, municípios e sociedade civil – como a criação de novas áreas protegidas, o embargo a áreas desmatadas ilegalmente e a inibição de acesso a crédito em regiões e propriedades com comprovação de desmatamento ilegal – o desmatamento na Amazônia em 2014 caiu para 5 mil km 2 .

Essa foi a menor taxa de desmatamento já registrada para o bioma, o que representou uma redução de 80% em relação a 2004. O resultado foi impressionante, e permitiu com que o Brasil se credenciasse como líder global no combate às mudanças climáticas, ganhando enorme destaque internacional.

Porém, esse gigantesco ativo ambiental gerado pela redução do desmatamento e de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) na Amazônia – os créditos de carbono florestais – não foram devidamente reconhecidos ou valorizados. E para piorar, as taxas de desmatamento voltaram a subir na região.

Importante considerar também que a forte recessão econômica que afetou o Brasil nos últimos anos, da ordem de -3,3% em 2016, foi ainda pior nos estados da Amazônia. Por exemplo, o Estado do Amazonas registrou uma retração de -6,8% em 2016, o Amapá, de -4,9% e Rondônia, -4,2%.

O desempenho econômico negativo foi diretamente acompanhado pelo aumento do desmatamento, que entre 2014 e 2018, subiu de 5 mil para 7,9 mil km 2 na região. O verdadeiro desenvolvimento sustentável da Amazônia, aquele que alia o desenvolvimento econômico das comunidades e populações locais com a conservação das florestas, ainda é um grande desafio.

Oportunidades através do REDD(+)

  É um contrassenso que a região que gerou a maior parte das reduções de emissões no Brasil – e consequentemente o maior volume de créditos de carbono – e que nos colocou na vanguarda mundial do debate sobre mudanças climáticas siga na pobreza e sem alternativas para um verdadeiro desenvolvimento sustentável.

Um mecanismo chamado Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) representa nossa melhor oportunidade para alavancar recursos e lidar com os desafios sociais e econômicos da região. Por ele, iniciativas que conservaram a floresta e promoveram melhorias socioeconômicas são aptos a obter recursos, através dos créditos de carbono.

Os valores podem alavancar investimentos nos estados e municípios, criando um ambiente favorável para a participação do setor privado e um novo caminho para uma economia com baixa emissão de carbono.

No entanto, para isso é preciso melhorar radicalmente a estratégia de captação de recursos para conservação e manejo sustentável das florestas, e assim colocar em prática o mecanismo do REDD+ e da valoração dos créditos de carbono florestais no Brasil.

 

Até agora foram obtidos pouco mais de R$ 3 bilhões como pagamento por resultados de REDD+. Os recursos foram aportados no Fundo Amazônia, administrado pelo BNDES, principalmente pelos governos da Noruega e da Alemanha. A quantia, porém, representa menos de 6% do potencial que poderia ser captados pelo Brasil via créditos de carbono florestais (dentro da lógica do REDD+).

 

O momento é oportuno e urgente para avançarmos com uma visão mais moderna e uma agenda mais positiva para desenvolvimento social e econômico da Amazônia. Não podemos mais aceitar a narrativa de que florestas não geram receitas e são um entrave para o desenvolvimento do país.

Nós temos no Brasil todas as capacidades e condições para criar novos arranjos e estratégias para que esse volume de recursos proveniente dos serviços ambientais e dos créditos de carbono chegue a quem efetivamente precisa dele. É necessário retomar o diálogo e a confiança entre o governo federal e os grupos envolvidos na construção de um marco regulatório robusto para REDD+, em nível nacional e subnacional.

Governo Federal, governos estaduais, municípios, setor privado, sociedade civil, produtores rurais, comunidades tradicionais e indígenas têm muito o que contribuir nesse debate. Somente assim, através da coordenação de esforços e de uma visão clara para o desenvolvimento da Amazônia, com base na floresta em pé e no uso racional dos recursos naturais que a floresta nos oferece, conseguiremos maximizar investimentos para a manutenção e valorização do enorme ativo florestal da Amazônia brasileira.

Saiba mais sobre o REDD+ aqui.

 

Este artigo foi redigido por Pedro Soares, gerente do Programa de Mudanças Climáticas e REDD+ do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – IDESAM.

 

O IDESAM é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) que recebeu o Certificado Internacional de Transparência e Boas Práticas Sociais da Phomenta.

 


Publicações recentes

Por Instituto Phomenta 10 de dezembro de 2024
No dia 3 de dezembro, a Phomenta realizou um encontro que reuniu mais de 600 inscritos de diversas regiões do Brasil para debater os caminhos do impacto social. O webinar Futuro em Foco: Tendências de 2025 para o Terceiro Setor foi pensado como um espaço de troca, onde integrantes da Phomenta e espectadores discutiram questões urgentes para as organizações da sociedade civil. Mediado por Rodrigo Cavalcante, Aline Santos e Agnes Santos, o evento trouxe à tona tendências que já estão moldando o setor, a partir de temas sugeridos por quem está na linha de frente do impacto social. Além de um panorama geral sobre desafios e oportunidades, foram abordadas questões como mudanças climáticas, envelhecimento populacional e o uso da inteligência artificial, sempre destacando como esses tópicos impactam diretamente a atuação das ONGs. “Nós podemos construir mundos melhores do que este em que estamos”: como se preparar para as mudanças climáticas Os pensamentos de Ailton Krenak guiaram a conversa sobre mudanças climáticas, uma das principais tendências apontadas para 2025. Estamos testemunhando o impacto crescente de eventos extremos e precisamos planejar ações para “adiar o fim do mundo” ou, ao menos, garantir a sustentabilidade das organizações. “Nós falamos muito aqui na Phomenta sobre não dar para prever todos os problemas; a pandemia ninguém previu, por exemplo. As mudanças climáticas até previmos, mas não nessa proporção que está acontecendo. Então é preciso que a gente pense em como seremos mais resilientes, em como a gente lida com os impactos que o planeta vai passar”, comentou Agnes Santos, gerente de metodologia. “Precisaremos mudar nossas estratégias de atuação, não tem jeito. Por exemplo, se a sua organização não trabalha com refugiados climáticos, talvez no futuro precise começar a trabalhar com esse público.” Durante a discussão, foram levantados pontos como a necessidade de repensar práticas organizacionais para responder a cenários de crise, o papel das ONGs na disseminação de informações confiáveis e no engajamento das comunidades, e estratégias para fortalecer redes e parcerias intersetoriais. Envelhecimento populacional e a economia prateada O envelhecimento populacional no Brasil foi outro tema amplamente debatido. Puxado por Aline Santos, o tópico apresentou como esse fenômeno impacta diferentes áreas, desde a saúde até a economia. Com a expectativa de que o país esteja entre os mais envelhecidos do mundo até 2030, surgiram debates sobre inclusão, acessibilidade e a valorização do público 60+. Houve também preocupações sobre o impacto do envelhecimento na dinâmica familiar e nos serviços sociais, além de destacar a necessidade de combater o etarismo e criar projetos que promovam qualidade de vida e integração entre diferentes gerações. “A ideia central dessa tendência é que o futuro é intergeracional. Olhe para como você está construindo a sua equipe, olhe como está desenvolvendo estratégias de comunicação, como está criando estratégias de mobilização, seja de voluntários, doadores ou da população atendida. Conecte as gerações”, reforçou Aline Santos, gerente de operações. Inteligência artificial como ferramenta para o impacto social A inteligência artificial, já discutida no webinar de 2024, permaneceu como um dos temas mais requisitados pelos inscritos. As ONGs queriam saber como usar essa tecnologia para otimizar processos e ampliar o impacto. Foram apresentados exemplos como o uso de chatbots para atendimento, ferramentas de análise de dados para planejamento e estratégias para alcançar novos públicos. Contudo, foi reforçada a importância de garantir que sua aplicação seja ética e acessível, especialmente em contextos sociais mais vulneráveis. Rodrigo Cavalcante, diretor executivo da Phomenta, destacou o papel dos agentes de IA, programas que interagem com o ambiente, coletam e usam dados para realizar tarefas. “Pra mim, esse é um grande ponto que vamos olhar em 2025: a criação desses robôs para operar e fazer coisas pra gente. Pode ser um robô do WhatsApp, um robô que se comunica com doadores ou com os atendidos da organização”, explicou. Confira o webinar na íntegra
Por Instituto Phomenta 9 de dezembro de 2024
A transformação social acontece quando unimos forças e colocamos propósitos em ação. Foi sobre isso que nosso diretor executivo, Rodrigo Cavalcante , abordou durante o podcast Impacto ESG. No encontro, foram compartilhadas histórias, reflexões, desafios e as conquistas de conectar o mundo corporativo ao terceiro setor. Quer saber mais? Confira completo aqui:
Por Instituto Phomenta 22 de novembro de 2024
A rede fortalece organizações em diversas regiões do Brasil, promovendo capacitação e conexão entre lideranças que lutam por justiça social e valorização cultural, para populações negras e indígenas.
Ver mais publicações

Fale com a Phomenta

Share by: